11 setembro 2008

Fausto Wolff


Por: Olsen Jr.

Diante da campanha de difamação que se orquestrou após a morte de Paul Nizan, filósofo e escritor, morto em combate na Segunda Guerra Mundial, Jean-Paul Sartre, seu melhor amigo, disse num ensaio (livro Situações IV) “... Não bastava que você estivesse morto era necessário que nunca tivesse existido”. .

Lembrei disso agora, companheiro, porque percebo uma conspiração velada, de silêncio e indiferença, parecem que os “bancos de memória” dos jornais foram confiscados e deixados em seu lugar, apenas algumas informações básicas para dizer que você existiu: “nasceu em Santo Ângelo no Rio Grande do Sul, começou no jornalismo aos 14 anos, foi para o Rio de Janeiro, esteve no Pasquim, foi exilado na Dinamarca (onde ensinou literatura sul-americana) em Nápoles e Grécia. Escreveu um e outro livro mencionado ao gosto do plantonista para o teu rápido necrológio, e só!”.

Desde a obra “O Campo de Batalha sou Eu” (de 1968) até este último “Olympia” (2008) você produziu muita coisa. Lembro daquele que comprei em uma bienal em São Paulo “Palestinos, Judeus da Terceira Guerra Mundial”, um livro reportagem em que ninguém avisou para você que o Arafat tinha um poderoso estafe de segurança e você simplesmente foi lá e entrevistou o homem, quando perceberam, tinhas saído com uma grande reportagem, claro que teve gente perdendo o emprego semelhante aquele alemão que aterrissou na Praça Vermelha em Moscou, de planador, lembra-se? Poderia falar daquele livro maravilhoso “Sandra na Terra do Antes” que você publicou na Dinamarca e começou quando você contemplava a tua filha Sandra Liberty no carrinho de bebê e se fez a pergunta, “se esta menina pudesse externar o seu pensamento o que ela diria?”. Fostes comparado a Hans-Christian Andersen... Sim, tem aquele “Mataram a Mãe Gentil” em que você me transformou em personagem... E vai por aí, “O Acrobata Pede Desculpas e Cai”, “Matem o Cantor e Chamem o Garçom”, “O Dia em que Comeram o Ministro”, “Rio de Janeiro: Um Retrato”, “O Dedo de Deus”, “O Lobo Atrás do Espelho”, “A Mão Esquerda” (por conta deste, ganhou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro), “A Imprensa Livre do Fausto Wolff”...

Fausto tinha algumas das qualidades que fazem um grande escritor, primeiro a capacidade de se indignar, de tentar mesmo com a literatura construir um mundo novo; bom observador, excelente memória que lhe permitia dispensar papel e lápis na maioria de suas andanças; era dotado de grande compaixão, junto com um estilo (sem o qual um escritor não é nada) e que lhe garantia uma produção de grande força e empatia com os menos favorecidos com quem sabia compartilhar bebida e solidão.

Na semana passada escrevi em minha crônica que você era uma espécie de irmão mais velho que eu não tive. Mal sabia que você estava internado há uma semana e iria morrer exatamente naquela sexta-feira. Talvez se tivesse tomado conhecimento daquele texto você protelasse a despedida, numa espécie de vislumbre futurístico de alguém que pudesse pretender repetir os teus passos e resolvesses fazer um alerta “Calma, guri, Fausto Wolff só tem um” ou então, como naquele poema que você me dedicou e terminava assim “... Vai guri, segue a tua sina, tua mina, teu nórdico mar e o importante amigo, é a sincera convicção de que os bons estão todos no mesmo barco”. Ninguém entendeu porque você escreveu em cima da toalha da mesa no restaurante, mas fique tranqüilo, dei um jeito de levar a toalha comigo.

De tanto esgrimir contra mil demônios você acabou magoando os teus pares incapazes de entender que tu eras o campo de batalha, mas deste, só participam os que ainda não perderam a capacidade de se indignar, como nós!

2 comentários:

  1. Canga,

    Como é triste um País sem memória, ou pior, com memória seletiva, pior ainda com memória chapa-branca. Peço licença a ti ao Olsen Jr. para postar esta crônica em meu blog.

    Um abraço !

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  2. 'GRANDE OLSEN...VERGONHA!!! Um Fabuloso Viking!

    Mauro Zainer

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