13 fevereiro 2009

GEOVAH AMARANTE

por Olsen Jr.

Lembrei de Martin Luther King Jr. “... I have a dream...”

Houve um tempo nesse País (1964-1982) quando os militares, através de uma quartelada, entre outras, impediram os cidadãos de elegerem quem os representasse no poder, que se viveu um tempo obscurantista do qual, parece, ainda não estamos de todo libertos. Nesse período, semelhante aos filmes de horror futuristas (“Farenheit 452”, de Ray Bradbury em que a principal função do corpo de bombeiros é queimar bibliotecas ao invés de apagar incêndios e “1984”, de George Orwell onde se antecipa o estado vigilante, denominado de “Big Brother” aniquilando o bem mais precioso do ser humano, sua liberdade) com artifícios autoritários foram eliminadas ou tiradas de circulação (cassação de cidadania ou exílio) as principais lideranças políticas, civis, religiosas, estudantis capazes de enfrentar aqueles desmandos.

Gradativamente, porém, um sentimento de resistência e indignação àquele autoritarismo, foi criando raízes e brotando nos lugares mais inóspitos, semelhante aquela planta que sobrevive à aridez do local onde nasceu, a qualquer custo, dignificando a vida que lhe anima as entranhas. Assim, estigmatizado nesse caos (porque o mais fácil era se aliar e ceder às comodidades oferecidas pelos usurpadores) nasceu no dia 24 de março de 1966, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, onde todos aqueles que tinham vergonha na cara, na época, se abrigaram.

O tempo foi passando e a luta também, encarniçada, não se discute estratégia de combate com o adversário. Mais patifaria de alguns, menos nobreza de outros, a distinguir os dois grupos: de um lado não se sabia por que se matava ou se torturava; de outro, ao menos se tinha consciência do por que se estava morrendo ou de que o sacrifício poderia valer à pena.

Geovah Amarante fez parte desse grupo que resistiu.

Era casado com a Dirce Olsen e pai do Fábio, da Fabíola e da Fabiane, os primos com os quais me solidarizo.

Em 1981 num congresso de literatura no Rio de Janeiro fiquei na casa da tia Elvira (mãe da Dirce) e encontrei o Geovah com uma dezena de livros recém adquiridos tratando de assuntos ligados ao socialismo, marxismo, utopia, sistemas de governo... Indaguei o que era aquilo? Afinal uma faceta dele que desconhecia, ele respondeu “precisamos unir a teoria à prática”. Valeu-se da palavra “práxis” em vez de ”prática” e acreditei que estava indo bem em suas leituras.

Ele era solidário com quem quer que seja que estivesse precisando, leal com os amigos, implacável com os adversários. Não levava desaforo para casa, doesse a quem doesse. Reconhecia o trabalho bem feito e sabia enaltecer quem o fizesse...

A última vez que estivemos juntos foi na Feira do Livro em Joinville, tomamos um café (antes de almoçarmos uma feijoada e irmos ao Mercado Público ouvir o melhor conjunto de choro que já vi tocar) ao lado das barracas de livros e ele se mostrou magoado com o que vinha acontecendo no partido P(MDB) com a absorção indiscriminada de quadros de qualidades duvidosas em detrimento de velhos companheiros de caminhada. Essa mágoa ele levou junto para o túmulo.

Quando expliquei as nossas relações de parentesco para o jornalista Arthur Monteiro que estava em minha casa, ele foi rápido “vou contigo até Joinville”...

O velório no domingo foi no salão nobre da Prefeitura Municipal...

Ver a bandeira do PMDB aberta em cima do caixão que me fez pensar na história, parece que foi ontem. Depois comentei com o Arthur, se soubéssemos que tudo ia dar nisso, me refiro a política rastaquera que se pratica aqui, não tínhamos nos empenhado tanto. Ele concordou acenando com a cabeça.

Depois, voltei a pensar em Luther King “Mesmo que isso lhe custe a vida, sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”.

2 comentários:

  1. Puta que Pariu. O Geovah foi o coordenador da campanha do LHS, que estava em Dubai e que não editou nenhuma NOTA, com o destaque merecido, através da assessoria de imprensa que estava lá divulgando a encenação aos borbotões... Lamento, profundamente consternado, que tão poucos, mas muitos poucos mesmo, sejam os que ainda resistam à tentação de se desfiliar desse arremedo de partido político, dessa engronha de interesses promíscuos. Digo isso como testemunha contemporânea da transformação. Em Florianópolis o retrato-reflexo do covil generoso que a legenda se transformou. Lamento que sejam poucos, porque se muitos fossem, a agremiação talvez tivesse salvação. Bastava expurgar a canalha.

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  2. É sempre bom ler neste blog os escritos do Olsen e comentários. Quanto ao LesPaul, fique tranquilo que o senhor Governador Viajante da Silveira não escreveu nada sobre seu correligionário e coordenador de campanha, mas ele, ou sua assessoria, sei lá, vivem escrevendo e publicando abóboras filosóficas e históricas em quase todos os jornais do interior do estado, assinadas e....bom, não sei de que maneira, mas devem ser pagas. Perca seu tempo, leia as abóboras de Dom Luis XV nos jornais.

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