Por Olsen Jr.
No dia 21 de novembro escrevi aqui sobre a maneira pouco civilizada que a filha tira o seu pai de um balcão de restaurante a pretexto de dizer que o mesmo era um “alcoolista”. Como diria o ex-presidente Jânio Quadros, fi-lo do ponto de vista de um observador. Agora, recebo e-mail de uma amiga afirmando que a filha também poderia ter escrito sobre a mesma situação. Está bem, concordo com ela, eis o “provável” texto:
“Gosto dessas reuniões em família, seriam melhores, é claro, se o meu pai não bebesse tanto. A gente só se encontra uma vez por ano, assim mesmo ele não consegue se desvencilhar do hábito. Agora, por exemplo, estamos aqui nesse restaurante, em duas mesas emendadas, eu, meu marido, meus três filhos (um deles com a namorada) e minha mãe. E agora, cadê o velho? Não disse, é só se distrair e ele some. Disseram que tinha ido ao banheiro, mas bastou dar uma espiada no balcão e já o enxergo, pedindo uma bebida. Vou dar um tempo para não provocar um escândalo, ele poderia ter feito o pedido aqui na mesa, mas não, parece um castigo, tem de ir até o balcão. Maldito vício, parece cachorro ovelheiro, quem é da nossa região sabe, cachorro ovelheiro é só matando, não tem cura. Agora mais uma, encontrou uma parceria. Quem será o sujeito com a camisa do Internacional que está conversando com ele. Parecem se conhecer está animado no papo, mas é uma maldição mesmo, sair lá do Alegrete no Rio Grande do Sul e vir até Florianópolis, final de semana, família reunida e encontrar alguém conhecido tomando uma cerveja no balcão de um restaurante... Torcer pelo mesmo clube, ter os mesmos hábitos... O cara parece ter menos 40 anos que ele, mas como é que tem assunto, meu Deus!
“Olho para os lados, aqui à mesa, parece, ninguém percebeu a minha aflição, sequer a minha mãe que se compraz em paparicar a namorada do meu filho, certamente afirmando que o neto é o melhor homem do mundo, céus! Tudo se repete na natureza, já vi esse filme antes, vou dar mais cinco minutos e vou buscar o velho lá no balcão.
“Quando saí do meu lugar, parecia uma vaca enfurecida, porque não raciocinei, só percebi isso depois. Disse que ia ao banheiro e me levantei, fui – na verdade - até o balcão e pedi para o meu pai me acompanhar, não lembro os termos que usei, mas devo ter sido grosseira, porque ele tentou amenizar a situação, me apresentou o senhor que estava ali junto, ele me estendeu a mão, fiz de conta que não era comigo, indignada, não admitindo outra coisa a ser feita senão o meu pai me acompanhar, mas eu percebi muito bem , antes de dar-lhes as costas, o que o cara falou, disse, qualquer coisa como “um homem deve ter o direito de permanecer na frente de um copo sem precisar dar explicações” ...
“Já estava em meu lugar à mesa quando percebi que o meu pai tinha ido ao banheiro, então fui lá falar com a pessoa que estava com ele. Diria do que se tratava. Talvez me desculpasse a grosseria momentânea. Aproximo-me, olho-o nos olhos e digo que o meu pai é um alcoolista, e quando começa a beber não para mais. Ele devolve o olhar com um silêncio que durou frações de segundos mas que parecia uma eternidade e num velho estilo que chamo de “cínico-irritante”, afirma repetindo o que eu já tinha ouvido falar ou lido, atribuído ao diretor de cinema, Woody Allen “O mundo se divide entre pessoas boas e pessoas más. As pessoas boas têm um sono tranqüilo. As pessoas más se divertem muito mais”. Dou-lhe às costas...
“Fiz de conta que não ouvi e fui me sentar. Depois, quase em seguida, vejo meu pai apertando a mão do sujeito com quem estivera conversando, uma despedida, acredito, após, vira o copo de um gole só, e vem em direção da nossa mesa, não sem antes dar uma última olhada para trás, não tem importância, sei agora que ele, apesar dos 83 anos, não vai desistir!”.
(Texto publicado originalmente no jornal A Notícia, Joinville (SC) no dia 02/01/09).
Amigo Canga!
ResponderExcluirQuando vi o título imaginei que a crônica era de um outro caso conhecido, da filha tirando o pai do balcão de bar.
Comigo aconteceu algo parecido: "_Estava eu, em um balcão de bar quando minha ex. carregando um filho em cada mão e mais um na barriga foi me buscar. Minha primeira reação foi dar umas porradas nela, naquela mesma hora como fazia quase sempre quando voltava pra casa e ela me chamava de bêbado. O que ela estava pensando... para me humilhar daquele jeito na frente de meus (amigos), logo eu macho pra caralho, mulher nenhuma me faz passar tamanha vergonha... Já ia dar umas bolachas nela ali mesmo, quando um outro bêbado disse para eu não fazer aquilo pois eu ainda tinha a sorte de ter alguém que me buscasse num balcão de bar e ele já não tinha mais ninguém..."
Meu caro Olsen Jr., ninguém com mais de 50 anos, aguenta beber da mesma forma de um "alcoolista". Isto que você contou é só uma forma de você dizer para não te encherem o saco pois tem gente que bebe até os 83, e você sabe que é mentira!
"Bêbado não consegue mentir para outro bêbado em sobriedade!"
Abraços,
Antônio Carlos.
Well, só por curiosidade, essa crônica é a segunda de uma série de três sobre o mesmo tema e circunstâncias... Na primeira (já pu-blicada aqui) "Sozinhos no Balcão", a filha tira o pai grosseiramente do balcão a pretexto de que o mesmo era "alcoolista" (termo aliás que ouvi pela primeira vez na vida) prefiro "dipsomaníaco", tudo eufemismos para "beberrão inveterado" ou pior "alcólatra"... depois uma amiga ligada ao curso de psicologia e filosofia da UFSC, por e-mail sugere que a filha do dito cujo também poderia opiniar, imaginei então o que saiu aí "A Filha do Alcoolista"... Claro, então deveríamos dar uma chance do pai da moça também se manifestar, o que acontecerá na próxima crõnica
ResponderExcluir"Índio Velho"...
O importante não é a quantidade do que se bebe ou não, ou do por que se bebe, enfim, mas o que se faz com isso? Cada um escolhe o seu caminho, ocupação, lazer, divertimento, ou por que não, seu destino ainda que por outros caminhos...
Perguntaram para o velho Sartre (que um dia foi novo e bonito como dizem suas biografias) se ele não tinha receio de estar acabando com a sua vida de maneira precoce (fumava cachimbo, bebia uísque praca, e ainda usava algumas drogas para permancer desperto e trabalhar muitas vezes vários dias sem dormir)... Ele simplesmente respondeu que se aquela era a condição para se escrever um grande livro, não se incomodaria...
Escreveu um monte deles, cito a autobiografia (não tem mais hífen aí) "As Palavras" e também um romance "A Náusea" que são infernais...
Todos os grandes escritores que conheço, vai, a maioria deles, bebia praca... Edgar Allan Poe, Scott Fitzgerald, William Faulkner, Jack London, Ernest Hemingway, John Fante, Charles Bukovski, William Burroughs, O. Henry... Olha que nem saí dos norte-americanos...
Talvez, na prática se concretize o que disse o crítico, jornalista e escritor George-Jean Nathan "Bebo para tornar as outras pessoas interessantes"... Ou como o amigo, escritor Raul Caldas Filho "Bebo porque não sei tocar tuba"...
Profissional do copo, bebe e não enche o saco de ninguém, a não ser o próprio, mas isso como sabemos é o dilema de cada um...
Um abração do viking
Olsen Jr.
Amigo Canga!
ResponderExcluirTodo "alcoólico" (portador da doença do alcoolismo) pensa que é mais criativo quando esta bêbado do
que são, o que não é verdade como vários famosos em todas as aéreas da criatividade dizem quando ingressam em grupos de auto ajuda!
"Alcoólatra" (o que idolatra o álcool) é todo aquele que coleciona garrafas e rótulos e chegam construirem verdadeiros santuários (bar) dentro de suas casas. Estes, bebem raramente e muito pouco, gostam de oferecer e exibir.
Já, o alcoólico, nunca consegue construir um, ele bebe tudo antes de terminar, sempre!). hehehehe...
Antônio Carlos