19 março 2008

Tupamaros, uísque e Suécia

Dois momentos do jornal que mantivemos - eu e o jornalista
Jurandir Camargo - na fronteira de 1980 a 1983 até a Anistia
Havia chegado de viagem a quaraí (RS) domingo à noite, aquela que demorou 24 horas, fui até o sanatório Gremeda, em Artigas (UY), visitar minha mãe para viajarmos no outro dia a Porto Alegre. Após a visita fui comer um "chivito" e tomar uma pilsen bien helada.
Quando entrei na pizzaria escutei:
- "Pero mirá, el Canga!" Assim me recebeu um velho conhecido de Artigas (Uruguay). José Luiz Ayala era meu conhecido desde a adolescência quando comecei a freqüentar os bailes do Club Uruguay e me enturmar com os "castelhanos" como chamávamos os uruguayos.
Me recebeu de forma amigável e não deixou que pagasse nem as cervejas e nem os uísques que se seguiram.
Acontece que a gratidão que tem por mim vem do ano de 1980. Nesta época eu estava fugindo de um processo na LSN por ter denunciado, no jornal Afinal, um lista de autoridades que mantinham contas bancárias na Suíça. "Exilado", mantinha um jornal na fronteira do Uruguay com o Brasil.
Nesta época seu irmão, Nano Ayala, havia sido libertado da prisão política de Punta Carretas em Montevidéo onde havia sido torturado. Estava com mulher e um filho pequeno em Artigas, na casa dos pais. Pertencia ao Movimento de Libertação Nacional Tupamaros. Nano não podia sair, viajar, passar para o Brasil e não tinha nenhum documento. Estava destruído emocionalmente. Afora, volta e meia era detido e interrogado.
Os pais me procuraram pois sabiam de minha militância no Brasil e de minha ligação com o Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
Logo acertamos o baralho!
Fizemos, eu e o jornalista Jurandir Camargo, contato com Jair Krishner em Porto Alegre e contrabandeamos o tupa para o Brasil. Levamos o amigo escondido em um Corcel até Porto Alegre onde chegamos ao clarear do dia. Voltamos imediatamente para Artigas. Nano Ayala foi para o Alto Comissariado da ONU no Rio de Janeiro e depois para a Suécia onde vive até hoje.
Tantos anos depois acabei sendo recompensado pela boa ação. Valeu três pilsen e cerca de...uma garrafa de Johnny. Foi uma noite memorável. Cheia de boas lembranças.

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