O escândalo da Descentralização

Hoje é o dia que o radialista Nei Silva, acusado pelo governo de extorsão e autor do livro "Descentralização no Banco Dos Réus", apresentará as provas da relação "incestuosa" do governo Luiz Henrique com a revista Metrópole. No livro, Nei Silva relaciona o envolvimento de políticos, empresários e funcionários do governo em um plano para fazer propaganda ilegal do governo e burlar a legislação eleitoral. Além de documentos, Nei Silva pretende entregar ao juiz Leopoldo Brüggemann, vários CDs com gravações que teria feito durante o período em que transitou nos corredores do Centro Administrativo.

Confira abaixo as gravações feitas pela Polícia Civil enquanto o empresário Armando Hess induzia Nei Silva a cair na armadilha que culminou com a sua prisão por extorsão.

Confira as conversas

O encontro entre Nei e o ex-secretário Hess

Resumo: segundo a Polícia Civil, nessa conversa do dia 1º de junho, às 18h55, Hess, orientado pelo delegado Renato Hendges, combina com Nei Silva o encontro em que entregaria R$ 40 mil em troca de um desmentido do conteúdo do livro "A Descentralização no Banco dos Réus":

HESS - Nei, a notícia é favorável... bom, tá. Vai dar certo, agora vai dar certo porque eu trabalhei o dia inteiro pra isso, tá?

NEI - Certo.

HESS - É por isso que estou te ligando agora.

NEI - Tá.

HESS - Mas amanhã, Nei, eu tenho um compromisso com a minha mulher de manhã e à tarde vou para São Paulo, então a gente poderia se encontrar amanhã, ou antes de eu ir no médico com ela, entre oito e oito e meia por aí...

NEI - Então de manhã, cedo, cedo para mim (sic) poder fazer estancar e fazer a faxina que eu preciso fazer...eu quero levar um documento junto pra você poder dar uma avaliada.

HESS - Uhumm.

NEI - Eu já elaborei um documento para estancar tudo isso aí.

HESS - Ah, isso é ótimo, cara.

NEI - Eu tenho um compromisso contigo e farei isso...nós acertamos...vamos fazer tudo que precisa ser feito.

HESS - Maravilha, aí fechamos de vez esse negócio porque acho que tá todo mundo...

NEI - Nós vamos fazer isso, Armando. Não te preocupa. Isso é um compromisso que eu tenho contigo. Eu já elaborei... passei inclusive o dia elaborando esse documento. Aí eu encaminho, você dá uma olhada, uma avaliada...

HESS - Oito horas, por aí?

NEI - Então tá combinado, eu estarei 7h em Florianópolis e às 8h te ligo.

Os detalhes do desmentido

Resumo: nessa gravação, às 19h09 do mesmo dia, Nei e Danilo Prestes Gomes, editor da revista "Metrópole", conversam sobre o teor do desmentido.

NEI - Temos que tirar o Armando (Hess) da jogada, tudo o que comprometa, e aí segundo eles há indícios, entendesse, que eles têm, entendesse que... que eles têm medo que o Ministério Público...

DANILO - Certo.

NEI - E outra coisa: tem que matar no peito e segurar no peito isso.

DANILO - Entendo, entendo.

NEI - Tem mais uma rodada amanhã.

DANILO - O cara (Hess) quer isso (o documento) hoje ainda?

NEI - O cara quer pra amanhã, rapaz, amanhã cedo. Quer uma conversa amanhã cedo porque a coisa tá fedendo...diz que o Luiz tá p... da cara.

DANILO - Ótimo, então tá.

NEI - Segundo a informação não havia conhecimento da parte dele.

DANILO - Tá bom. Me diz uma coisa: então posso te mandar até 7h30?

NEI - Não, não, não... pelo amor de Deus, rapaz, 5h eu tô com o pé na estrada.

A versão final do documento

Resumo: nessa ligação, às 20h14 do mesmo dia, Nei e Danilo conversam sobre a finalização do documento.

NEI - Eu mandei alguma coisa ali, mas eu não tive tempo de me concentrar bem para fazer o negócio (documento), entendeu? Até porque eu não tinha tempo e tô sem internet aqui agora, rapaz.

DANILO - Mas, homem, concentra porque essa é a coisa mais importante da nossa vida.

NEI - Eu sei, mas eu te mandei.

DANILO - Mas tu tás aonde? Tá em SC ou no Paraguai?

NEI - Não, eu tô em Florianópolis, mas tô sem internet, meu notebook quebrou. Mas eu mandei pra ti... e o que eu quero é o seguinte, veja bem: tu pega o que eu mandei agora.

DANILO - Eu vou tentar melhorar, vou tentar melhorar. Não, tu inventou, entendesse (sic), o sistema, hein?

NEI - Inventei, inventei, claro. Totalmente. Dá uma olhada, aí tu tenta aproveitar o resto que eu mandei. Se tu quiser uma coisa especial, tu me manda e aí amanhã às 7h tá no seu e-mail.

O que dizem

ARMANDO HESS e o diretor de imprensa do governo, JOSÉ AUGUSTO GAYOSO NEVES , negam qualquer contrato com o empresário. Gayoso classifica de "fantasiosa" a afirmação de que o governo teria feito "acordo tácito" com os responsáveis pela revista "Metrópole".

Em depoimento à polícia, o secretário IVO CARMINATI (Articulação) disse que propôs a Nei que ingressasse com uma ação judicial cobrando os valores que dizia ter direito.

No inquérito, o secretário DERLY MASSAUD DA ANUNCIAÇÃO (Comunicação) reconheceu que em uma oportunidade manteve encontro com Nei e Danilo Gomes, mas negou qualquer negócio com ambos.

Para o delegado Hendges, o dono da "Metrópole" cometeu "extorsão clássica" ao tentar pedir dinheiro em troca das denúncias de pagamento de "reportagens" com dinheiro público.