29 outubro 2008

Apagão: sou espírito de luz!

Foto de Ulisses Job

    29 de outubro de 2003

    Já era o segundo dia do apagão em Florianópolis. Mesmo à luz de velas, a noite tinha sido “comprida”. Fiquei até tarde em um bar na Lagoa. Com o apagão, Floripa parecia o fim do mundo e aí resolvemos beber até...o fim.

    Cheguei em casa com uma dor forte no lado direito da barriga. Tentei dormir e não consegui. O dia clareou e a luz não vinha. Começamos a acompanhar o caos da cidade pelo radinho. Era carro boiando nas garagens da beira mar. Sem sinaleiras o trânsito ficou insuportável. Polícia? Como chamar, nada funcionava. A dor aumentava. Buscopan já não fazia efeito.Lá pelas 4 da tarde resolvi:

    - Vou para o hospital!

    Mas que hospital? Só no Estreito onde ainda tinha eletricidade e assim mesmo entupidos de gente. O Hospital Universitário era uma alternativa. Devia ter um plantão de emergência, pensei. Mesmo não acreditando muito me dirigi ao HU. Chegando lá estava tudo vazio. A “clientela” se mandou tudo pros hospitais do Estreito. Me dei bem!

    Fui atendido imediatamente. Um sextanista me examinou e logo chamou o médico de plantão. Mais um exame rápido e ele mandou prepara a sala de cirurgia.

    - Apendicite aguda!

    No quarto andar tinha um gerador de eletricidade cedido ao HU pela RBS. Me deram um avental, aqueles de bunda de fora, umas pantufas e uma touca branca pra cabeça. Quando saio da sala, todo fantasiado, já me esperavam um médico e três enfermeiros. Todos de branco e com máscaras. Imediatamente me colocaram um soro no braço e apontaram para um corredor escuro, é claro, e disseram vamos!

    - Como assim? Pra onde? Tá tudo escuro!

    Uma enfermeira rapidamente me alcançou um vela acesa que transportei na frente daquele séquito pra lá de estranho. Eu não sabia, mas no soro já tinha uma droguinha prá amaciar a carne e a cabeça.

    Dias antes, havia visto uma entrevista na Ana Maria Braga com um senhor espírita Cardecista que seria o substituto do Chico Xavier. Não sou dado às crenças mas ouço espíritas. Lá no meio da entrevista o amigo falou que os espíritos de pouca luz, atrasados demoram muito a desencarnar. Ou seja, morrem e não percebem. Ficam sofrendo por aqui. Os espíritos iluminados, esses sim, sobem rapidamente. Encontram os enfermeiros do universo, todos de branco, que encaminham eles para os “canais competentes”. Achei interessante a estória.

    Quando começamos a subir as escadas do HU em direção ao quarto andar, lá pelo segundo eu olhei ao redor revi a cena, todos de branco e eu com uma vela na mão, exclamei na hora:

    - Eu morri!!!!

    Todos riram e eu rapidamente me recompus e, com uma ponta de alegria, lasquei:

    - Morri mas sou um espírito de luz. Já me dei conta!

Fui perceber que estava vivo lá pelas nove da noite quando abri os olhos e meus filhos e minha mulher estavam na minha volta, já no quarto do hospital. Que apagão!!!!

2 comentários:

  1. Canga,

    Pelo visto o pior não é ter morrido. É tu andares de camisola, com um séquito atrás, e de bunda de fora. Que risco, hein meu irmão? E ainda foi dormir. Quando acordastes nem chegastes a pensar no risco que correstes, né mesmo? hehehe

    Abs

    Cesar Laus

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  2. Pior foi em Laguna, depois 12 horas de morfina e ouvindo o médico e uma jovem médica dialogando:
    - infarte não é, né?
    - A C H O que não.
    - mas ele (eu) tá com dor, né?
    - parece, os pé tão todo retorcido...

    6 horas depois estava em Florianopolis, a patrôa me trouxe e eu segurando a cria de 1 ano no colo (hoje com 12). 14 horas depois estava esticado na sala de cirúrgia (e pela vidraça eu via ... ôpa recaída de Odair José e Márcio Greique) eu estava acordado , sem vesícula transcorrida uma cirurgia prevista para 1 hora e meia que durou quase 08 horas. Acordei com o anestesista me dando um esporro e eu... quando vi um relógio marcando 20 horas na parede... dando um esporro de volta...

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