16 janeiro 2009

GOOD LUCK, MR. ALFRED!

Por Olsen Jr.

Está no nosso imaginário, o mordomo se chama Alfred e o motorista Jarbas. Devemos isso, creio, às revistas em quadrinhos. Trazemos da infância, portanto e perpetuamos ainda que somente nas blagues, explico:

No dia 21 de dezembro recebi um e-mail com um aplicativo bem humorado e que tornou a mensagem mais agradável de ser lida. Anexo, vinha uma explicação dizendo que poderia instalar aquilo no meu computador. Segui os tais passos anunciados e fiquei surpreso com o resultado. Logo nas primeiras horas, todas às vezes que recebia um e-mail, aparecia o mordomo (que logo passei a chamar de Alfred) caminhando na tela, com os passos ressoando solenes, parava ali embaixo no canto direito do meu computador, de fraque, com uma bandeja na mão onde estava um robusto envelope de cor marrom, levemente estufado, como se contivesse um livro, olhava para mim e aristocraticamente dizia: “e-mail, sir!”... Logo passei a responder “thanks, Alfred!” e ele com os mesmos passos reverberando na biblioteca, saia da minha vista.

Isso foi só no começo. Depois ele aparecia, eu acessava a caixa e não tinha nada. Estranhei. Os dias foram passando e tudo se repetia sem que e-mail algum aparecesse.

Bueno como se diz no Sul, talvez fosse o reflexo das festas natalinas, ano novo, enfim, havia uma ressaca geral e todos estavam dando uma folga para os compromissos, ditos protocolares.

Outro dia o meu filho ligou perguntando se já tinha dado uma olhada na casa que estava alugando, disse que não recebi o e-mail; depois foi a moça da seguradora perguntando se tinha recebido o boleto para pagar, repeti que não... E aí me ocorreu enviar um e-mail para mim mesmo... Fiquei pasmo, nada. Comecei a sentir que havia um problema. Por sugestões técnicas, ligo para a provedora, repito todos os passos da reinstalação dos programas, enfim, eles então me enviam dois e-mails para testar, e recebo-os sem maiores problemas. Acreditei que ninguém tinha tentado se comunicar mesmo, acontece, pensei. Queria ser um ermitão e estava conseguindo em uma medida, digamos, desproporcional a solidão almejada para escrever apenas mais um romance.

No dia oito de janeiro, estou olhando para a tela do computador, o dito wallpaper onde apareço com uma roupa jeans abraçando a blumenauense Vera Fischer, que está magérrima num longo vestido cor de rosa com seus instigantes olhos azuis e um brilho que revela contentamento além do normal, menos por mim, naturalmente, mas pelo recente desempenho na peça “The Graduate”, traduzida aqui como “A Primeira Noite de um Homem”, quem pode, pode... Foi aí que percebi num canto da tela, junto com dezenas de outros ícones aquele envelope marrom que o Alfred costumava me mostrar sempre que tinha uma nova mensagem. Não tive dúvidas, cliquei ali, e para surpresa minha, começaram a aparecer todos os e-mails que não havia recebido nos últimos 19 dias. Coisa de louco...

Bem, sem o pretender, no dia 21 eu havia instalado um novo programa no meu computador, um “concorrente” (na verdade uma cópia) do Outlook, só que colorido e com um “bônus” representado pelo Alfred, o mordomo.

Dei uma espiada em todos os e-mails, um a um, sei, portanto quem se comunicou, mas iria respondê-los sem pressa. No outro dia o técnico esteve aqui e suprimiu o tal programa e com ele todas as mensagens. Fiquei chateado, palavra.

Tudo ocorreu depois de ter conversado civilizadamente com o Alfred, não culpei a crise norte-americana, nem uma hipotética mágoa pela separação dos Beatles, tampouco a ansiedade para ver o Internacional ganhar tudo esse ano e muitíssimo menos, os descaminhos pelos quais se perdeu o ex-P(MDB) velho de guerra, simplesmente afirmei que um escritor (nesse tempo de crise) não poderia se dar ao luxo de ter um mordomo, ainda que se chame Alfred. Ele entendeu e foi embora. A fleuma inglesa prevaleceu, mas quer saber? Acho que estou com saudades dele!

(Publicado originalmente no jornal A Notícia)

Um comentário:

  1. A maioria dos jornalistas que cobriu as copas do Japão/Coréia e a última da Alemanha batizaram seus GPSs, geralmente uma versão portuguesa de Portugal falada por uma rapariga bacanuda: "trêis milhazz converta à esjquerda, mantãenha-se à esquerrda...". Passei um tempo fora, dirigindo um vagão de milhas acompanhado por 'Fâtima', minha navegadora digital. Filmei-a falando cordialmente comigo, fotografei-a ... enfim, demonstrei todo meu agradecido afeto por ter me conduzido por estivas desconhecidas com segurança. Pois não é que a piranha alentejana até hoje não respondeu meus e-mails, cartas e telefonemas... Fugiu com um tal de Alfred...

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