19 outubro 2008

O Freitinhas

- Carlos de Freitas?

- Foi atrás de uma reportagem sensacional!

Estava tirando um cochilo dominical quando a Mariana, filha do jornalista Edson Rosa, ligou para avisar: o pai havia ido a Blumenau com um casal de jornalistas visitar o velho de guerra e se deparou com o velório. Cena chocante deve ter sido, ainda mais para o Edson, que teve no “seo” Freitas o mestre dos primeiros passos no jornalismo, ainda nos anos 1970, no jornal A Gazeta. Avisei o Carlos Damião. E estou enviando para o blog do Canga, o “vulgo” Sérgio Rubim de tantas lutas, algumas informações com base numa matéria do Joel Gehlen (A Notícia, 21.12.1996) e no suplemento literário do Jornal Cultura em Movimento Blumenauaçu (nº 19, 2004).

Nasceu em Rosário do Sul-RS, no dia 16 de julho de 1921. Começou a escrever cedo, no jornalzinho dos alunos do Instituto Ginasial de Passo Fundo-RS. Já era casado, tinha uma filha, e ganhava pouco como redator de publicidade, quando resolveu viajar pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, até chegar ao Rio de Janeiro. Corria o ano de 1947, quando retornou e se fixou na capital paulista por 22 anos – Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), Folha da Tarde e Folha da Noite. Como repórter pode conhecer o Brasil. Atuou em diversos outros veículos, inclusive em televisão e rádio.

Chegou a Santa Catarina em 1972, contratado pelo jornal A Cidade, de Blumenau, em off-set. Poucos anos depois encontrei o “seo” Freitas na redação do jornal A Gazeta, onde estavam Edson Rosa, João Carlos Mendonça dos Santos e Itaeli (Ita) Pereira, entre outros. Trabalhei algum tempo com ele. Depois fui reencontrá-lo na direção do jornal Extra, em Joinville, um diário mantido pelo PMDB e produzido no sistema antigo: composição dos textos em linotipo, montagem das páginas e títulos em ramas, impressora plana, além de clichês para as fotos.

Poeta, repórter até a medula, era calmo e paciente. Pitava cigarrilhas, soltava a fumaça e olhava atentamente. Estava pensando, refletindo. Escrevia com uma clareza surpreendente. Uma simplicidade de mestre do ofício. Joel Gehlen assim o descreveu ao entrevistá-lo em Blumenau, na redação do jornal A Hora Ilustrada. Estava com 76 anos de idade. “Baixo, magro, cabelos grisalhos, um bigode cultivado, em manga de camisa, a blusa azul atirada sobre os ombros. Comedido. Às vezes, cismado nas atitudes. De falas poucas, típico das pessoas que já não se apoquentam em mostrar-se sociabilis”.

Começou na poesia em São Paulo, em 1968.

Cantava:

“Não te inquietes

se um dia eu não voltar

destas longas viagens.

Quando um companheiro entregar

meu caderno de notas,

põe novamente na estante

o livro que deixei sobre a mesa.

No dia seguinte

arruma a menina para a escola

como se nada tivesse acontecido

e diz aos garotos de nossa rua

que fui para um lugar desconhecido

fazer uma reportagem sensacional”.

Deus te tenha meu amigo. E que continues a produzir lá no céu mais do que textos. Continues a produzir o sentido da ética no exercício da profissão. E não nos deixe sem os teus poemas.

Abraços

Celso Martins

Sambaqui, 19 de outubro de 2008.

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