Marcos Sá Corrêa*
"E, na batida em que vai, o governador Luís Henrique está fazendo o possível para ser lembrado como o político que tomou posse de um Estado invejado nacionalmente pela beleza natural e passou para o sucessor um estado de calamidade pública".
O governador de Santa Catarina, Luís Henrique da Silveira, finalmente se convenceu de que anda à solta por aí uma tal de desordem climática. Foi ela, pelo menos, a desculpa que o acudiu para definir o tipo de tragédia que derreteu encostas no Estado e matou dezenas de pessoas. É, governador, essas coisas acontecem.Talvez sejam em vasta medida inevitáveis. Mas tendem a pegar mais pesado quem estava desprevenido. E, se estiver interessado em conferir o que quer dizer isso, pode folhear o Código Estadual de Meio Ambiente, que sob seu patrocínio está secando, mesmo debaixo de chuva, a caminho da Assembléia Legislativa.
Ele foi saindo cada vez mais torto, à medida que passava por audiências públicas. Pegou o mesmo tipo de resistência que, três anos atrás, defendeu Santa Catarina da criação de parques nacionais em lugares ainda abençoados por florestas de araucárias. Armou-se de dispositivos estranhos, senão agourentos, como a aprovação automática das licenças ambientais, se em 60 dias os técnicos não derem sua palavra final sobre projetos.
Tende a ser uma lei dura. Mas só é dura com aquilo que o governador já chamou na tevê de "oposição meio ambiental". Pode ser coincidência, mas o rascunho está cada vez mais parecido com suas idéias, e, principalmente, com suas idiossincrasias.
Mesmo com a chuva caindo, ele riscou qualquer menção à "vida aquática", na parte referente aos "recursos hídricos". Pois é, trata-se de abrir alas à construção de hidrelétricas. Ele nunca engoliu os argumentos que o impediram de autorizar, como queria, quando prefeito de Joinville, a instalação de uma usina na serra catarinense. E acredita, ou professa, que toda precaução é um instrumento do "medievalismo".
Como nunca esclareceu exatamente o que quer dizer com essa palavra, presume-se que não se trate da Idade Média original, a européia, marcada pela eliminação quase total das florestas no continente, pela transformação dos rios em esgotos fedorentos e por uma guerra milenar contra a fauna silvestre.
O europeu do século XX também se distingue de seus antepassados medievais por ter mais árvores. Ou pela prerrogativa de pescar em rios límpidos no centro de Estocolmo. E até por não dar mais a seus políticos o direito de fazer em público as declarações que o governador faz em entrevistas. Muito menos de governar um Estado que é recordista nacional de devastação da mata atlântica, em nome do "aproveitamento sustentável da natureza" e da ojeriza à "obtusidade".
Não adianta apontar para o céu. As chuvas podem fazer grandes estragos, mas dão e passam. Como nenhuma chuva chove dois mandatos, quase sempre há tempo de sobra para apagar os sinais deixados por sua passagem antes que venha a inundação seguinte. E as obras feitas aqui embaixo tendem a durar mais do que as pessoas que as deixaram.
E, na batida em que vai, o governador Luís Henrique está fazendo o possível para ser lembrado como o político que tomou posse de um Estado invejado nacionalmente pela beleza natural e passou para o sucessor um estado de calamidade pública.
* Marcos Sá Correa é jornalista e editor da revista Piauí”
O Ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, exprimiu ontem preocupação com a polêmica proposta de alterações do novo código de Meio Ambiente de Santa Catarina ao receber uma carta dos servidores da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) sobre a questão.
ResponderExcluirEntre as alterações previstas pelo projeto de lei nº0238.0/2008, está a redução da Área de Proteção Permanente (APP) em torno de rios de 30 para 5 metros.
"Você querer reduzir isso é uma visão completamente tacanha e mesquinha da questão ambiental. Você tem que ampliar e não reduzir", afirmou Minc. O ministro ressaltou que um estado que aposta no turismo depende também das belezas naturais e que Santa Catarina já está perdendo muita área de Mata Atlântica. "No dia em que a gente assina o decreto da Mata Atlântica, depois de dois anos, um dia de festa para a Mata Atlântica, essa notícia é muito triste, pois as matas ciliares e manguezais são protegidos por todo tipo de lei", comentou.
O estado é, hoje, o terceiro com maior número de hectares de Mata Atlântica no país, porém no ano passado foi o que mais desmatou. As três cidades campeãs de desmatamento de mata atlântica entre 2005 e 2007 são de Santa Catarina: Mafra, Itaiópolis e Santa Cecília. Juntas, elas destruíram no período 3.843 hectares - o equivalente a 5.382 campos de futebol. Segundo levantamento da SOS Mata Atlântica, neste período, Santa Catarina aumentou o índice de desmatamento em 8%, suprimindo 48.000 hectares, enquanto que os outros sete estados juntos desmataram 46.000 hectares.
Há uma forte pressão por parte de alguns deputados estaduais para que a proposta de redução das APPs seja aprovada até o final do ano.
Fonte: CarbonoBrasil
Dá para entender agora que outras tragédias estão sendo anunciadas. A proteção dos rios e das águas, fontes de vida, é colocada em segundo plano, para o aproveitamento de áreas para plantar "até na margem" despejando agrotóxicos e facilitando o assoreamento. É o pensar no hoje, só. Amanhã que se dane. É tamanha a burrice, inclusive, que nem dá para acreditar.
Carlos X