03 outubro 2008

O nome do lugar


Para ilustrar o artigo do Olsen, casualmente tenho uma foto na frente da morada do Hemingway em Paris, nomesmo prédio onde também morou Paul Verlaine. A foto é na rua Mouffetard, no Quartier Latin.

Por: Olsen Jr.

Acompanhando o material que saiu na imprensa sobre o centenário da morte de Machado de Assis, diante de uma fotografia em preto e branco da Rua do Ouvidor, lembrei da primeira vez que fui ao Rio de Janeiro. Tinha 17 anos e fazia o primeiro ano de engenharia civil em Blumenau, mas não perdia de vista o fato de que pretendia “ser um escritor”. A escolha da engenharia era bronca antiga, uma vez que sempre fui mal a matemática, era movido pelo “espírito de contrariedade” como diziam na época.

No Rio, ficava na casa de minha tia-avó, Elvira Olsen Sapucaia (alô Dirce e Geovah?) na Rua Conde do Bonfim, Alto da Tijuca. Uma vez instalado, peguei um táxi e pedi “Rua do Ouvidor”... O cara ficou me olhando, talvez pensando “é o terceiro hoje”... Não falei nada, já curtindo o que iria encontrar lá.

Em minha cabeça estava claro que não faria nada no Rio sem antes conhecer a Ouvidor. Depois, tentei buscar algo, uma referência por onde começar, talvez, se tivesse sorte, poderia surpreender o Monteiro Lobato na única tentativa que fez para encontrar com Lima Barreto, saindo de um bar onde vislumbrou o escritor, mulato, engenheiro de formação, bêbado dormindo com a cabeça sobre os braços em uma das mesas, saindo sem acordá-lo... Comecei a rir comigo mesmo.

Quando fui à Buenos Aires pela segunda vez, já fazendo o curso de direito (aliás, a primeira vez tinha apenas passado por lá, rumo à La Plata onde participei do Iº Encontro Internacional de Filosofia do Direito, em 1982) hospedados na Avenida de Mayo, pegamos um táxi (Ma. Odete, Charlie e Michelle juntos) e fomos até a Rua Corrientes, 348... Estava certo que não faríamos nada ali sem antes conhecer o lugar eternizado no tango “A Media Luz”... O taxista fez a mesma cara de desapego, talvez pensando “é a décima família que levo pra lá hoje”... O lugar estava repleto de turistas, fotografando e filmando, em uma porta (tipo garagem) de cor verde escura havia uma imitação de pauta musical indicando a letra de Carlos Cesar Lenzi e música de Edgardo Donato, o resto ficava por conta de nosso imaginário... Ao longe, um out-door anunciando o jornal “El Clarin” que nos fez por os pés no chão.

Acabo de ler “Paris Não Tem Fim”, de Enrique Vila-Matas, escritor espanhol e que cita alguns endereços (todos tirados do “Paris é uma Festa”, de Hemingway) como o 27 da rue de Fleurus (onde morava Gertrude Stein e Alice B. Toklas) e aquela obsessão em repetir os passos do escritor norte-americano (leit-motiv do personagem, alter-ego do seu livro), no bar La Coupole (um dos locais freqüentados por Sartre e Simone de Beauvoir), o bar do Ritz (Petit Bar da rue Cambon) mais precisamente a adega, “libertada” por Hemingway em 25 de agosto de 1944, antes de terminar a IIª Grande Guerra Mundial, o Café de Flore (onde Sartre escreveu “A Náusea”), o 74 da rue Cardinal Lemoine (em cima de uma serraria onde Hemingway viveu no princípio dos anos vinte), o Café de la Paix e o Café Deux-Magots, o Café La Closerie des Lilás freqüentados pelos existencialistas e intelectuais... Esqueceu da Braserie Lipp`s (onde Joyce jantava com a família) ou na l`Odeon, 12 endereço da livraria Shakespeare and Company, de Sylvia Beach...

Os lugares freqüentados por pessoas famosas ganham uma aura duradoura, ficam eternizados, independente do vínculo que possamos ter com eles, a literatura permite esta certeza. Só uma constatação, agora que o jornalista Ney Vidal está organizando um livro para contar a história da “Kibelândia”, o bar mais antigo de Florianópolis, que mantém ainda a mística dos outsiders que o visitam desde o final da década de 1969 (quando foi fundado) e que sobreviveu ao período estratocrático mantendo a reputação de reduto de gente livre, inconformada e com idéias...

Falando nisso, continuo sendo contra!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Desove sua opinião aqui