06 dezembro 2008

O EMBLEMA RUBRO DA CORAGEM

Por Olsen Jr.

O título aí em cima é o nome de um livro sobre a Guerra da Sesseção nos Estados Unidos, escrito por Stephen Crane, um dos ícones da literatura norte-americana.

Veio-me à lembrança assim porque além do aspecto trágico da vida do autor (morreu tuberculoso com menos de 28 anos), e inspirado em Zola, Tolstoi, fez um grande livro, um estudo interessante sobre a alma humana e o efeito sobre ela que exerce a psicologia da multidão, os soldados no campo de batalha.

Há uma tese implícita, lembrada por Vernon Louis Barrington, de que as vitórias são acidentes, resultados de um choque cego de forças desprovidas de inteligência, antes que conseqüência de estratégia e da perspicácia militar.

Mais ainda, lembro agora, às vésperas de uma decisão de campeonato na Copa Sul-Americana: uma coisa é um conflito militar e outra, uma disputa esportiva, embora se possa destacar esse espectro do trágico e do imaginário coletivo (do atleta que está em campo e do torcedor que espera a hora do jogo) que é diferente do crítico-literário citado anteriormente, porque nesse caso, a estratégia do embate é planejada meticulosamente em função do potencial do adversário, seus pontos fracos e suas aptidões capazes de definirem a disputa. Aqui, exceto o animus individual, o que move quem está dentro do campo, tudo é visível e, portanto, passível de ser planejado e modificado mesmo (e principalmente) durante o transcorrer de uma partida se o andamento do que se vê (para o técnico) não agradar.

Ao tempo em que escrevo não se sabe ainda o resultado do jogo, uma vez que ele só começará às 22h. Sabe-se, porém, que será o primeiro jogo de futebol na América-Latina em que todos os expectadores, torcedores dos clubes, o mandante de campo e o visitante, são associados.

Estou falando disso porque desde que acordei hoje cedo, não consigo fazer nada. De vez em quando dou uma espiada no relógio. O dia está custando a passar. Percebo uma ansiedade, logo eu, que me considero um veterano. Mas é sempre assim. Tenho a sensação que logo mais entrarei em campo. Tem de começar logo, porque senão vou explodir. Coisa de louco. A carne para o churrasco está ali, tudo pronto, falta só começar o jogo, mas o tempo tarda. Não me venham com esse papo de que é apenas um jogo de futebol. Tá bom, sei que é isso mesmo, mas como é que vou explicar isso para aquele outro “eu” que é torcedor, às vezes até irracional, mas honesto? Como?

Deixei o texto nesse ponto. Concluo depois do jogo...

Agora, dez horas depois, ganhamos! O que foi aquilo? Que dureza! Rapaz, deveria ter uma forma mais fácil de se divertir nesse planeta!

A par disso, a má vontade da imprensa (paulista e carioca) com o futebol sulista é gritante. A Folha de São Paulo minimiza essa final entre o Estudiantes de La Plata e o Internacional. Afirma que o clube brasileiro só se dedicou ao torneio porque não tinha mais nada para fazer no campeonato brasileiro. Ok! Mas vejam só, supondo que o São Paulo não consiga sair vitorioso nesse final de semana, o que o São Paulo ganhou neste ano? Nada. E o Palmeiras? Além do campeonato regional, o que ganhou? Nada.

Ora, o Internacional disputou cinco torneios esse ano, ganhou três. Dois deles, internacionais (a Copa de Dubai onde derrotou o Stuttgart, campeão alemão e a Inter, de Milão, à época, liderando o campeonato italiano e hà 22 jogos sem perder e ontem, derrotou o Estudiantes, num torneio que começou com 32 equipes) então, não consigo entender essa má vontade com o futebol do Sul do Brasil. Tudo bem, sem mágoas agora, porque nós, os poeta, perdoamos, mas não esquecemos

E por que lembrei o livro do Stephen Crane ali no começo do texto? Talvez porque o vermelho da coragem seja rubro mesmo...

É isso, dá-lhe colorado! O ano que vem tem mais!

(Texto publicado originalmente no caderno cultural “Anexo”, do jornal “A Notícia”)

Um comentário:

  1. O OLSEN está muito bem na foto que ilustra o apaixonado txt. E ler Crane é viver aventuras del carajo a exemplo de London. Saludos desdi aca, como diria mi cumpadre catalão

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