Por Olsen Jr.
Dia destes fui ultrapassado na descida da rampa de um shopping. Como a extensão da pista que dá para a saída é curta, a manobra do velocista exigiu grande perícia. O motorista dirigia uma dessas camionetes com tração nas quatro rodas, importadas, e principalmente, porque eu estava à 30 km por hora, ou seja, uma velocidade “extraordinária” nunca antes alcançada por um veículo 1.0. Sinceramente, fiquei impressionado com aquela exibição de arte, claro, sou daqueles que valorizam a arte onde ela esteja, pode perguntar para qualquer um aí que me conheça, não é mesmo?
Há 30 anos acompanhando as corridas de Fórmula 1, desde a estréia do Emerson Fittipaldi, nosso primeiro campeão, eu sabia que os “deuses da velocidade” são caprichosos. Eles apreciam testar a paciência e os limites de cada piloto, isso em competições oficiais. Quem não se lembra daquela corrida em que o Felipe Massa liderava de ponta a ponta e faltando apenas três voltas para o final, sua Ferrari para com pane no motor? Ou daquela em que o Nigel Mansel liderava com sobra, e na última volta, um parafuso que prende o pneu soltou-se e então, o “sortudo” do Nelson Piquet herda a posição e se sagra tri-campeão?
Extraoficialmente, bem, os “deuses” são menos percebíveis, parodiando o Woody Allen, diria “não é que eles não existam, apenas não querem se envolver”.
Então, quis o destino que o (in)distinto cidadão que me ultrapassou na rampa ao chegar lá embaixo, antes de entrar na avenida beira-mar encontrasse o sinal fechado, de maneira que sem o pretender, emparelho o meu carro com o dele. Estamos ali, lado a lado, quando me ocorre abrir o vidro elétrico do carona e cumprimentá-lo pela manobra ao mesmo tempo, ousada e arriscada, tão estúpida quanto inútil. Abro a janela e o chamo: “senhor... Hei! Senhor, por favor, gostaria de parabenizá-lo pela destreza... Senhor... Não está me escutando?”. O sujeito põe a mão no ouvido esquerdo, como se estivesse atendendo a um celular, mas não poderia perder aquela oportunidade de fazer um elogio a um artista do volante e tento novamente, desta vez levanto o tom de voz, digo: “senhor, um momento só” ponho o indicador nos meus lábios, sinalizando que gostaria de lhe falar, mas ele não se dá por achado, então, me ocorreu que ele poderia ter algum “problema auditivo”, daí grito, antes que o sinal abra, “além de cretino é surdo”... Ouço como resposta apenas um cantar de pneus no asfalto enquanto ele dispara pela avenida molhada naquele final de tarde, cuja harmonia só poderia ser quebrada pela insensatez de um “az” do volante, precisamente o caso, ironizo!
Depois que ele sumiu de vista me ocorreram várias hipóteses capazes de justificar um excesso de velocidade em uma rampa de um shopping, talvez o cara tivesse deixado um cachorro de estimação dentro do veículo e o mesmo estivesse passando mal precisando agora ser atendido em uma clínica veterinária? Melhor, a própria mulher estivesse grávida e entrando num trabalho de parto? Algum amigo ou conhecido com um mal súbito e estivesse prestando socorro?
Mas não, aqui é do imaginário “cultural”, o sujeito aprende a trocar a marcha do carro sem olhar para o câmbio e acredita que já sabe dirigir... Com os veículos importados ficou melhor, nem precisa se preocupar com as trocas de marchas... A pergunta que se impõe é a seguinte “vai aonde com tanta pressa?” Quer ou precisa chegar aonde antes dos “outros?” Aliás, se você já sabe aonde chegar, conte para nós, acabe com a “nossa” agonia, uma vez que não conheço ninguém que saiba onde isso tudo vai dar. Seria um belo presente nesse início de ano, “saber aonde vamos chegar ao final de tudo”, está certo a vida perderia um pouco a graça, mas em compensação ninguém mais precisaria correr tanto!
"....cuja harmonia só poderia ser quebrada pela insensatez de um “az” do volante,".
ResponderExcluirPrezado Viking, não seria por acaso um "Asno Volante??"...