19 novembro 2008

Julgamento de jornalista russa ssassinada será a portas fechadas

Começou na segunda-feira, dia 17, o julgamento contra os supostos participantes no assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaia. O julgamento está sendo feito em tribunal militar de Moscou e ao contrário do que a imprensa havia divulgado o julgamento será a portas fechadas com ausência do autor material e da pessoa que idealizou a execução. A repórter, uma das poucas a cobrir o conflito da Chechênia e a denunciar as violações dos direitos humanos, corrupção e assassinatos na Rússia, foi morta em 7 de outubro de 2006 na entrada do edifício em que morava em Moscou. Um dos acusados, Pavel Riaguzov é agente dos serviços especiais do FSB (ex-KGB) e teria fornecido o endereço da jornalista aos assassinos. Mais três pessoas são suspeitas de participarem do assassinado da jornalista: dois irmãos chechenos, Djabrail e Ibraguim Makhmudov, suspeitos de vigiar Anna, e um cúmplice, membro da Polícia Criminal, Serguei Khadjikurbanov. Rustam Makhmudov, irmão de Ibraghuim, teria atirado nela. Ele está foragido. Não se sabe quem encomendou o crime. Reproduzo abaixo trecho do livro onde Anna descreve o fenomeno da corrupção e a forma tentacular que tem ao longo do Estado russo, ao longo das relações entre o Estado e o Privado. As pequenas histórias de poder e as teias de dependências que a corrupção produz. As classes sociais emergentes e os novas classes de poder nascidas no período pós-URSS.

“Nós, os que vivemos na União Soviética, onde quase todos tínhamos um emprego estável e um salário com que podíamos contar, que tínhamos uma confiança inquebrantável e ilimitada no que o amanhã nos traria. Nós, que sabíamos que havia médicos capazes de nos curarem de todas as doenças e professores capazes de nos ensinarem tudo; e que sabíamos também que não teríamos de pagar um tostão por tudo isso. Que tipo de vida pretendemos levar hoje? Que novos papéis nos foram dados?

As mudanças desde o fim da era soviética foram a triplicar. Primeiro, passámos por uma revolução pessoal (em paralelo, claro, com a revolução social), quando a União Soviética se dissolveu durante o consulado de Boris Yeltsin. Tudo desapareceu de um momento para o outro: a ideologia soviética, as salsichas baratas, o dinheiro no bolso e a certeza de que havia um Paizinho no Kremlin que, ainda que fosse um déspota, pelo menos era responsável por nós.
A segunda mudança veio em 1998 com o défice e a bancarrota. Muitos de nós tinham conseguido amealhar algum dinheiro nos anos que se seguiram a 1991, quando a economia de mercado foi efectivamente introduzida e houve sinais de aparecimento de uma classe média. Uma classe média à russa, convenhamos; não uma classe média como a que podemos encontrar no Ocidente (sem dimensão para suportar a democracia e o mercado, tal e qual está a acontecer com a decadência no Ocidente). Da noite para o dia, tudo isto desapareceu. Por essa altura, muitas das pessoas estavam tão cansadas da luta quotidiana pela sobrevivência, que não tinham forças para enfrentar um novo desafio, pura e simplesmente deixando-se afundar sem vestígios”.

Um comentário:

  1. E tem gente que acha aquela porra de regime do `caralh`. Faltam mais vozes como a de Solzhenitsyn. Façam uma oração silenciosa por Anna Politkovskaia. Faltam coragem e disposição pra levantar a tampa da privada soviética e seus métodos despóticos de calar a boca de quem denuncia a miséria, a tortura e o terror. Um país do cacete, com gente belíssima (algumas mulheres são estonteantes) e paisagem e riqueza aos borbotões, governado por sanguessugas com exclusivos projetos de poder e GRANA.

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